Quanto ao clima predominante aqui, pelo que pude observar, dele fazemos uma ideia errada na Europa. Assim, acredita-se, por exemplo, que só no inverno chove forte e continuamente, o que não é verdade. Pelo contrário, chove mais seguido nos meses de dezembro, janeiro e fevereiro; portanto, no verão. Os fortes trovões diários produzem-me marcada impressão e, como pude notar, também nos nativos. Sua influência sobre as crianças de 2 a 3 anos é a mais curiosa. Conheci crianças dessa idade que, à aproximação dos trovões caem em sono letárgico para só despertarem depois que a tempestade passa de todo. O mesmo efeito tinham sobre minha irmã, até dois anos atrás.
Neste momento estão passando alguns carros de duas rodas, carregados de pedras, cuja música é tão irritante para o ouvido que me vejo obrigado a largar a pena e a dizer-te adeus por hoje.
Egmont, quão infinitamente feliz farias a teu querido amigo se estivesses aqui.
L.
Décima nona carta
Rio de Janeiro, 15 de dezembro de 1819
Parecer-me-ia incompreensível que tantos milhares de europeus possam permanecer longamente neste país se não me tivesse convencido de que há outras tantas razões que os prendem como indivíduos. Um, atirado à torrente da especulação por enganosas descrições, fica para que não escape das mãos o pouco que adquiriu com muito trabalho. Outro, entusiasmado com a perspectiva de dobrar a fortuna em curto prazo e sem maior dificuldade, assiste ao lento progresso dessa duplicação de seus haveres, mas continua, movido pela ganância que não o deixa, até que o hábito lhe faz esquecer a diferença entre sua pátria e esta terra. Milhares de outros que para cá vieram com o propósito de cultivar a terra e, pelo trabalho, encontrar na lavoura os bens terrenos que lhes faltam, descobrem horrorizados que sua constituição europeia não resiste às fadigas que, aos mesmos nativos — acostumados ao clima —, depauperam e em pouco tempo inutilizam. Debalde procuram então os meios com que voltar à pátria desprezada, uma