Para isso não lhe valeram só os incomparáveis estudos anteriores de economia, finanças, sociologia, mas principalmente os seus olhos novos, não acostumados ainda à penumbra dos especialistas. Os brasileiros estamos cansados de ver, todos os dias, as nossas montanhas de Guanabara: é preciso um Darwin chegar, para um quarto de hora depois, notar o véu de gaze azul que as veste, de imprecisão e mistério, véu de umidade que lhes dá o esfuminho celeste... Nossos olhos velhos não viram... Nina Rodrigues anda pela medicina clínica, até que uma reforma de ensino o obriga à medicina legal: descobre logo um mundo, que os médicos-legistas profissionais não viram, não podiam ver sem olhos novos. Os de Roberto Simonsen viram logo na história do Brasil a infraestrutura decisiva e fundamental, de nossas historietas mal contadas, político-administrativas, que se esboçam, tabelioamente, nos compêndios, sem explicação... Tudo se ilumina à explicação. Não quisemos ver o fato econômico irredutível, imprescindível, não compreendemos nada... Deciframos hieróglifos sem chave... Poesia. Ficção. Agora, com a chave, é que vem a interpretação exata...
O acolhimento que lhe deram os nossos mais consagrados historiadores, Afonso de Taunay e Rodolfo Garcia, fazem fé. O primeiro, que não desdenha a brasilidade, nem nas imagens, lhe diz: "Continue, Simonsen, a sua picada, pela mataria desse Brasil inexplorado. Outros farão, dessa trilha difícil, uma estrada real...". O outro, lembrando-se de intuições de seu mestre, o grande Capistrano, tem-se por feliz quando lhe dá uma indicação, lhe descobre um documento, ou uma estatística, num velho livro...
A história econômica, assim recebida, vai ficar em moda. O historiador noviço já não será anatematizado,