História econômica do Brasil; 1500-1820

organizações da mesma importância. Mas, ainda assim, foram instaladas, quer pelos concessionários do comércio do pau-brasil, quer pelo próprio governo português, várias feitorias, postos de resgate, em sua maioria de caráter temporário, onde se concentravam, sob o abrigo de fortificações primitivas, os artigos da terra que as naus vinham buscar. São por demais deficientes até hoje as notícias sobre essas feitorias, Igaraçu, Itamaracá, Bahia, Porto Seguro, Cabo Frio, São Vicente e outras intermediárias, que desapareciam, ora esmagadas pelo gentio, ora conquistadas pelos franceses. Mas o próprio comércio do pau-brasil é uma demonstração de sua existência e as notícias que se têm, referentes à década anterior a 1530, salientam a preocupação do governo português de defendê-las. Nessa época apresentou-se iniludível ao rei de Portugal, este dilema: ou ocupar efetivamente a terra de Santa Cruz, ou correr o risco de perdê-la. Daí a expedição de Martim Affonso de Souza que foi a primeira de caráter verdadeiramente colonizador e que se nos mostra tão bem estudada pelo erudito patrício, Comandante Eugenio de Castro, a quem devemos, também, as anotações do precioso diário de navegação de Pero Lopes de Souza.

Além dos motivos já especificados em nossa conferência anterior, a série de expedições espanholas que penetraram o estuário do Prata e em demanda do Pacífico (1511, 1515, 1519 e 1526) e que passaram pelas terras brasileiras, influíram igualmente na decisão real. Mas a atenção que despertavam, no Velho Mundo, a descoberta dos metais preciosos nas Índias de Castella, constituía, quiçá, a mais forte emulação. Resulta daí, talvez, a preferência demonstrada pelo grande cabo de guerra na escolha, como primeiro ponto de ocupação definitiva, de um local próximo à provável costa do ouro e da prata, a outro da costa do pau-brasil.