História econômica do Brasil; 1500-1820

Peru, o qual ensinou outro mais fácil e de menos fábrica e custo, que é o que hoje se usa, que é somente três paus postos de por alto muito justos, dos quais o do meio com uma roda de água ou com uma almanjarra de bois ou cavalos se move e faz mover os outros. Passada a cana por eles duas vezes, larga todo o sumo sem ter necessidade de gangorras, nem de outra cousa mais que cozer-se nas caldeiras, que são cinco em cada engenho, e leva cada uma duas pipas pouco mais ou menos de mel, além de uns tachos grandes em que se põem em ponto de açúcar, e se deita em formas de barro no tendal, donde se levam à casa de purgar, que é mui grande. E postas em andainas lhes lançam um bolo de barro batido na boca, e depois daquele outro, com que o açúcar se purga e faz alvíssimo. O que se fez por experiência de uma galinha, que acertou de saltar em uma forma com os pés cheios de barro e, ficando todo o mais açúcar pardo, viram só o lugar da pegada ficou branco.

Por serem estes engenhos dos três paus, a que chamam entrosas de menos fábrica e custo, se desfizeram as outras máquinas e se fizeram todos desta invenção e muitos de novo; pelo que no Rio de Janeiro onde até aquele tempo se tratava mais de farinha para Angola que de açúcar, agora há já 40 engenhos, na Bahia 50, em Pernambuco cento, em Tamaracá 18 ou 20, e na Paraíba outros tantos; mas que aproveita fazer-se tanto açúcar se a cópia lhe tira o valor, e dão tão pouco preço por ele que nem o custo se tira?"



Os diálogos das grandezas do Brasil

Capistrano de Abreu, na introdução aos Dialogos das grandezas do Brasil, descreve essa manifestação da economia do início do século XVII :