"Do Brasil acabava de chegar uma armada extraordinariamente rica, trazendo não menos de 40 mil caixas de açúcar, que tendo sido comprado barato, se estava vendendo caro; ora, um imposto de um tostão ou de seis vinténs sobre cada arroba produziria a soma precisa para 15 navios de 30 peças (20 mil cruzados). Ordenou-lhe o rei que pusesse por escrito a sua proposta, e, passados alguns dias, disse-lhe que havia ela sido presente aos seus ministros, que acharam mui cru o negócio. Alguns meses depois, estando o padre Vieira em Caravelas, convalescendo de uma enfermidade, mandou-o El-Rei chamar a Alcântara:
— Sois profeta, lhe disse; ontem à noite chegaram da Bahia novas de ter-se Shoppe fortificado em Itaparica. Que faremos?
Vieira respondeu:
— Facílimo é o remédio; disseram os vossos ministros que o meu projeto era cru, pois já que o acharam cru, que o cozinhem agora."
Não obstante, anuiu Vieira em procurar recursos para a expulsão dos holandeses e os obteve. A Companhia do Comércio do Brasil, fundada logo após, auxiliou a terminação da campanha. Mas o incidente demonstra que a produção no Brasil era bem superior a um milhão de arrobas, pois que só a tal frota portuguesa transportava um milhão e 400 mil, proveniente da zona não ocupada pelo inimigo. (14)Nota do Autor
Os grandes proventos que os holandeses auferiram do artigo explicavam o seu interesse em conservar o torrão de ouro, de que se tinham apossado. As narrativas da época exaltam o luxo e a riqueza que se ostentavam na Bahia e no Brasil holandês.