Os indígenas no Brasil, com mentalidade inteiramente primitiva, muito distanciada do tipo de civilização, que gera a contínua ambição de riquezas, não trabalhavam voluntariamente em qualquer ocupação fixa; nem tão pouco possuíam, para isso, a necessária resistência física.
Só restava, pois, aos lusitanos, a obtenção da mão-de-obra, necessária à organização econômica da terra de Santa Cruz, no trabalho forçado. Recorreram à escravidão indígena, inteiramente dentro da mentalidade da época, pois que no sul da Europa ainda era intenso o comércio de escravos, provenientes do tráfico africano e das guerras religiosas; e em vastas zonas da Europa central e do norte imperava a servidão da gleba.
Surgiu, assim, o uso dessa instituição como um imperativo econômico inelutável: só seriam admissíveis empreendimentos industriais, montagem de engenhos, custosas expedições coloniais, se a mão-de-obra fosse assegurada em quantidade e continuidade suficientes. E por esses tempos e nestas latitudes, só o trabalho forçado proporcionaria tal garantia.
O comércio escravagista estava bem dentro do espírito reinante. Já em 1511, a nau "Bretôa", pertencente aos contratantes do pau-brasil, levava para Lisboa 30 índios cativos, apanhados em terras brasileiras.
Os primeiros colonizadores de São Vicente, muito antes da chegada de Martim Affonso de Souza, escravizavam índios, de tribos, naturalmente, hostis àquelas com que se achavam associados. A propósito, antigos cronistas do Brasil fazem referências ao porto de escravos de São Vicente.
J. Poribio Medina, na descrição da viagem de Sebastião Caboto, se refere ao fato, no tomo relativo aos documentos: "Preguntado que cosas trae en aquesta nao ("Santa Maria del Espinas") dijo que en esta nao no viene cosa ninguna, sino ciertas muestras de metales