As pessoas que no Brasil querem viver, tanto que se fazem moradores da terra, por pobres que sejam, se cada um alcançar dous pares ou meia dúzia de escravos (que pode um por outro custar pouco mais ou menos até dez cruzados) logo tem remédio para sua sustentação; porque uns lhe pescam e caçam, outros lhe fazem mantimentos e fazenda e assim pouco a pouco enriquecem os homens e vivem honradamente na terra com mais descanso que neste reino, porque os mesmos escravos índios da terra buscam de comer para si e para os senhores, e desta maneira não fazem os homens despesa com seus escravos em mantimentos nem com suas pessoas."
E também acrescenta: "E assim há também muitos escravos de Guiné; estes são mais seguros que os índios da terra porque nunca fogem nem têm para onde".
A escravidão vermelha
É de salientar que o meio não fornecia reservas de que se lançasse mão; e a garantia da alimentação era tão necessária, como a segurança pessoal. Não são raros, na história da civilização americana, os casos de padecimentos e de morte pela fome. Utilizando-se, a princípio, para a faina produtora, do trabalho voluntário de índios mansos e do forçado, dos selvícolas hostis, as necessidades obrigaram os primeiros colonos a estender essa servidão; datam daí as terríveis lutas que tiveram de sustentar contra os autóctones, quando estes começaram a compreender o que representaria a ocupação da sua terra pelos brancos.
Graças, talvez, aos ensinamentos do que já ocorrera na América espanhola, mostram-se os governantes portugueses inclinados a atenuar a sorte dos selvícolas