História econômica do Brasil; 1500-1820

tanto se deliciam em alegar: sua altivez diante do colonizador luso em contraste com a passividade do negro. O índio, precisamente pela sua inferioridade de condições de cultura — a nômade, apenas tocada pelas primeiras e vagas tendências para a estabilização agrícola — é que falhou no trabalho sedentário. O africano executou-o com decidida vantagem sobre o índio, principalmente por vir de condições de cultura superiores. Cultura já francamente agrícola Não foi questão de altivez nem de passividade moral".

Estudando-se com maior atenção o assunto, compreende-se o grande esforço desenvolvido pelos jesuítas em prol da liberdade dos índios, diante de sua relativa tolerância em relação ao tráfico africano. A escravidão já existia há muito tempo no próprio continente negro. O preto mostrava-se resistente e capaz de suportar as vicissitudes do labor a que era chamado. O índio, com mentalidade muito mais atrasada, não tinha, seja a resistência física, seja a compreensão da necessidade do trabalho; daí, a hecatombe humana que representava a sua escravização.

O jesuíta, em face do imperativo econômico, e tendo que escolher, procurou, naturalmente, amparar o mais necessitado. Os esforços grandiosos que desenvolveu no Brasil e na América em favor da redenção e da elevação cultural das raças aborígenes, serão apreciados em capítulo especial, quando estudarmos a influência das missões jesuíticas sobre a formação da economia brasileira.

A legislação portuguesa, se mostrava titubeante em relação ao trabalho dos íncolas. Admitida a escravização, a princípio, como se verifica dos forais dos donatários, foi, mais tarde, com a instituição do governo geral, recomendado um melhor tratamento aos íncolas. E logo se iniciou a atuação dos jesuítas, amparada pela bula papal que proclamou a liberdade dos índios.