O Brasil literário: História da literatura brasileira

teve que castigá-la por uma falta qualquer. Por vingança, e provavelmente ainda excitada por gente perversa, acusara o patrão de volta ao judaísmo. Logo, ela própria teve o justo castigo de suas calúnias. Entrando na prisão, ficou de tal modo abalada diante de seus horrores, que morria alguns dias depois.

Instruía-se então o processo de Antônio José sob o número seis do corredor meio novo. Viu-se então que a denúncia não tinha provas; ela só se baseava em vagas suspeitas como as que poderiam advir dos informes de uma negra boçal. Os juízes procuraram, então, provas através da própria encarceração.

Sabemos pelos documentos ainda conservados nos arquivos reais da Torre do Tombo (66) Nota do Autor que os carcereiros tinham ordem de observá-lo através de aberturas feitas nos ângulos da abóbada da prisão. Todos diziam haver visto Antonio José ajoelhar-se com fervor, fazer o sinal da cruz e pronunciar algumas orações cristãs. Alguns apenas acrescentavam que em alguns dias, jejuava. Este jejum, natural nas circunstâncias em que se encontrava, foi interpretado como prescrição de Moisés, e foi a única prova de sua culpabilidade, com o depoimento de um homem, que havia sido preso com ele.

Com semelhantes juízes, protestou sua inocência e apelou ao testemunho de homens conhecidos como o chefe da Moeda Real, D. Matias Aires Ramos da Silva Eça, o poeta da "Henirriqueida" Francisco Xavier de Menezes, conde de Ericeira, e que continuou seu amigo até a sua morte(67) Nota do Autor e mesmo pessoas conhecidas por