Viagem ao Brasil, 1865-1866

Fizeram-nos desembarcar num cais, perto de uma estrada do mais encantador aspecto, e como não encontrássemos condução perto da estação e a embarcação só partisse daí a duas horas, resolvemos logo seguir a grande. estrada e ver aonde ela nos conduziria. Tivéssemos nós apenas passeado ao longo da meia volta da baía, nas areias da praia que as ondas eriçam e debruam, tendo diante de nós as montanhas do lado oposto arroxeadas pelo sol da tarde, e não teríamos mal empregado a nossa tarde. Mas a estrada se dirige ao magnífico hospício Pedro II, que já havíamos admirado do tombadilho do vapor no dia de nossa chegada.



Hospital de loucos

É o hospital de loucos. Transpusemos as grades, e como o grande portão do edifício estava aberto, e o porteiro não pareceu se opor, subimos as escadas e fomos caminhando em frente. É difícil imaginar um edifício mais bem apropriado aos seus fins. Só vimos, é verdade, as salas públicas e os corredores, porque é ne-cessária uma licença especial para visitar o interior; mas uma planta suspensa na parede do vestíbulo per-mite fazer uma ideia das instalações, e o aspecto geral atesta a limpeza, o cuidado extremo e a ordem que reinam em tudo. Algumas das salas públicas são realmente de grande beleza; uma, sobretudo, no fundo da qual se vê uma estátua do Imperador criança, da época sem dúvida da sua coroação. Percebem-se hoje perfeitamente bem no homem de 40 anos a fisionomia franca, inteligente e nobre do adolescente sobre quem pesava, já aos 15 anos, tão pesada responsabilidade. Chegados ao andar superior, o som da música nos guia para a porta da capela onde se celebram os ofícios da tarde. Os enfermos e suas enfermeiras estão todos ajoelhados; um coro de vozes femininas se eleva, doce, calmo, tranquilo: