Viagem ao Brasil, 1865-1866

IX



MANAUS E SEUS ARREDORES



Atelier fotográfico. — Retratos de índios

Sábado, 4 de novembro — Manaus. A semana se passou sem novidade; o álcool se esgotou e temos que renunciar por algum tempo a novas expedições. Enquanto aguardamos que o próximo paquete vindo de Pará nos traga nova remessa, tornou-se a ocupação dominante o estudo das variadíssimas misturas que se fazem entre as duas raças, índios e negros, e dos cruzamentos tão frequentes neste país. O nosso antigo acampamento pitoresco no Tesouro, abandonado para irmos morar num apartamento mais confortável em casa do Sr. Honório, serve agora de ateliê fotográfico. Agassiz passa nele a metade dos dias, em companhia do Sr. Hunnewell, que, tendo consagrado todo o tempo de sua demora no Rio em aprender os processos fotográficos, adquiriu certa habilidade na arte da "semelhança garantida". O grande obstáculo, porém, são os preconceitos populares. Reina entre os índios e os negros a superstição de que um retrato absorve alguma coisa da vitalidade do indivíduo nele representado e que está em grande perigo de morte aquele que se deixa retratar. Tal ideia está tão profundamente arraigada que não foi fácil vencer as resistências. Aos poucos, porém, o desejo deles se verem em figura vai dominando; o exemplo de