Viagem ao Brasil, 1865-1866

é deixado repousar; forma-se logo nele um depósito, semelhante ao amido, que se deixa endurecer e de que se faz em seguida uma espécie de sopa; é prato favorito dos índios.



Na intimidade dos índios

30 de agosto – À medida que o tempo vai passando vamo-nos tornando mais familiares com os nossos rústicos amigos, e começamos a compreender as relações que mantêm entre si. O nome do índio que nos hospeda é Laudigari (escrevo como me soa aos ouvidos), e o de sua mulher, Esperança. O homem, como todos os índios das margens do Amazonas, é pescador e, com exceção dos cuidados exigidos pela sua pequena plantação, tem como exclusiva preocupação a pesca. Nunca se vê um índio trabalhar nos cuidados internos da casa, não carrega água, nem lenha, e não pega nem mesmo nas coisas mais pesadas. Ora, como a pesca só se dá em determinadas estações do ano, ele gasta a seu bel-prazer a maior parte do seu tempo. As mulheres, ao contrário, são muito laboriosas, segundo dizem, e aquelas que temos diante dos nossos olhos justificam perfeitamente essa boa opinião. Esperança está constantemente ocupada, quer com a casa, quer fora dela. Ela rala a mandioca, seca a farinha, comprime o tabaco, faz cozinha, varre os quartos. As criancinhas são ativas e obedientes: as mais velhas se mostram úteis indo buscar água no lago, lavando mandioca ou cuidando dos menores. Não se pode dizer que Esperança seja bonita, nas tem um sorriso gracioso, e a sua voz francamente suave tem como que uma entoação infantil que a torna verdadeiramente cativante. Quando, acabado o trabalho, ela veste por cima de sua saia escura uma camisa branca um tanto folgada, deixando aparecer seus ombros morenos e enfia