Danças
Na noite deste mesmo dia, consegui, não sem custo, decidir Laudigari a tocar alguma coisa para nós ouvirmos, uma espécie de viola rústica, instrumento favorito das gentes do interior e orquestra comum de suas festas. Uma vez acertada a música, pedimos a Esperança e Miquelina que nos mostrassem algumas de suas danças. Elas se negaram por muito tempo, mas enfim, com um embaraço devido sem dúvida a esse primeiro despertar da dignidade que o contato da civilização provoca, cada uma delas deu a mão a um de nossos canoeiros e a dança começou. Era de um caráter todo especial e tão lânguida que apenas merecia o nome de dança. O corpo não faz quase movimento algum, os braços levantados e dobrados ficam duros e imóveis, os dedos estalam como castanholas acompanhando a música, e dir-se-iam estátuas deslizando de lugar em lugar mais do que dançadores. As mulheres é que produzem principalmente essa impressão, porque se movem menos ainda do que os homens. Um dos canoeiros era um boliviano, homem de formas elegantes e de fisionomia original, cujas vestes bizarras aumentavam ainda a singularidade dos seus movimentos. Os índios da Bolívia vestem uma espécie de dalmática; pelo menos não sei de outra expressão que possa dar uma ideia mais exata dessa vestimenta comprida e dura de algodão de malhas. Ela se compõe de duas peças unidas em cima dos ombros, porém deixando uma abertura para passar a cabeça, e que caem uma atrás outra na frente; são apertadas na cintura e abertas dos lados de modo a deixar toda liberdade aos braços e às pernas. As pregas rígidas dessa pesada capa branca emprestavam ao nosso boliviano o ar de uma figura de pedra se movendo com lentidão.
Quando terminou, chegou a minha vez de ser rogada por Esperança e seus amigos para mostrar "a dança do