Viagem ao Brasil, 1865-1866

deixamos o sítio em três canoas e os músicos nos acompanharam na embarcação menor; nossos amigos índios só se separaram de nós na beira da lagoa com barulhentos adeuses, agitando os seus chapéus e soltando alegres hurras. A volta, a remo, pelo lago e pelo igarapé foi deliciosa; o sol se deitara havia muito quando saímos do pequeno canal, e o Rio Negro, largamente aberto sobre o Amazonas, parecia um mar de prata. A canoa dos músicos estava colocada lado a lado com a nossa; regressamos, pois, ao som das modinhas, canções do país que parecem especialmente feitas para serem acompanhadas ao violão e que têm um quê particular; são pequenas estrofes graciosas, líricas, de um ritmo melancólico e cujo canto é sempre um pouco triste, mesmo quando as palavras são alegres. Caímos pouco a pouco numa espécie de devaneio confuso, e um silêncio quase absoluto reinou até o fim da viagem. Quando, porém, nos aproximamos da praia em que devíamos desembarcar, irromperam de súbito os sons de uma banda de música, dominando os violões plangentes, e vimos avançar em nossa direção uma grande piroga cheia de meninos. Eram os órfãos da escola de índios que visitáramos na nossa primeira passagem por Manaus. A embarcação deles fazia um encantador efeito ao luar; parecia que ia afundar ao peso de todas aquelas crianças que, vestidas uniformemente de branco, haviam surgido diante de nós. A pequena banda do colégio costuma todos os domingos e feriados tocar sob as janelas presidenciais e agora já voltava para a terra, pois eram perto de dez horas; a um sinal, porém, de nossa parte, ela virou de rumo e acompanhou-nos tocando alegres números de música até à margem. E assim o nosso passeio campestre terminou ao luar e ao som da banda.