horizontais como no litoral e nas vizinhanças do Rio de Janeiro; a vila de Óbidos está assentada sobre ele. As cercanias são muito pitorescas e o solo muito fértil, mas nota-se sempre o mesmo aspecto de negligência e inatividade descuidada tão tristemente comum a todas as vilas do Amazonas.
Santarém
23 de janeiro. — Ontem, muito cedo, chegamos a Santarém, e, às sete horas e meia da manhã fomos dar um passeio em terra. A cidade se acha situada num pequeno promontório que separa as águas negras do Tapajós das amareladas do Amazonas. A paisagem é encantadora, realçada ainda por um fundo de colinas que se estendem ao longe para leste. Visitamos primeiro a igreja que faz frente para a praia. A porta estava aberta como para nos convidar a entrar.
Recordações de Martius
Não era a curiosidade apenas que nos levava a transpor os umbrais dessa porta: outro objetivo tínhamos em vista: em 1819, um naturalista, que então explorava o Amazonas, Martius, tornado célebre pela sua grande obra sobre a história natural do Brasil, naufragou em frente de Santarém e escapou de perder a vida. Na aflição, fez um voto de que, se escapasse de morrer, testemunharia o seu reconhecimento com um donativo à igreja de Santarém. De volta à Europa, enviou de Munique um crucifixo de tamanho natural, que se acha suspenso ao muro, com uma simples inscrição embaixo, que recorda em poucas palavras o perigo, a salvação e a gratidão do doador. Como obra de arte, esse crucifixo não tem grande valor, mas atrai à igreja muita gente