Viagem ao Brasil, 1865-1866

das conduções para o público parece estar engenhosamente combinado para impedir que o viajante admire as belezas do caminho; a maior parte de nossas quatro horas de viagem decorreu depois do cair da noite, e, em compensação, a volta foi feita antes que o sol nascesse. Passamos a noite na raiz da serra e, pela manhã, às sete horas, pusemo-nos a caminho da montanha. Renunciaremos a descrever o encanto duma excursão como essa, mormente quando o tempo a favorece. Passávamos da sombra para o sol e deste para aquela, protegidos por uma aragem fresca dos incômodos do calor; a estrada serpenteia lindamente pelos flancos da montanha e dá às vezes uma volta tão fechada que se vê por baixo dos pés todo o terreno que se acabou de percorrer. De um lado, é a vertente da montanha cuja vegetação ostenta uma beleza que desafia qualquer expressão; são as parasitas carmesins, as flores purpurinas da quaresma, as delicadas corolas azuis das utriculáceas tão frágeis e graciosas como as nossas campânulas. Do outro lado a vista mergulha, aqui em estreitas gargantas, onde se desdobram florestas magníficas, do seio das quais despontam penhascos arrogantes; adiante, em vales amplos e extensos; mais baixo ainda, na planície por que acabamos de passar, o olhar atinge até a baía distante, seu arquipélago de ilhotas e sua cercadura de montanhas. Toda essa paisagem resplandece ao sol ou se cobre de sombra ao capricho das nuvens. A subida se pode facilmente fazer em três ou quatro horas, mas não tínhamos a menor pressa, não fosse a fome que apaziguávamos de vez em quando chupando umas laranjas, com que prudentemente enchêramos as latas de herborizar. Assim, pois, uma tropa de burros vagarosa que subia a serra não custou em nos alcançar e passar mesmo à nossa frente, enquanto nos deixávamos ficar distraídos ao longo da estrada. Não é que perdêssemos tempo, pelo contrário. Agassiz e seus companheiros muito se ocupavam em examinar