Viagem ao Brasil, 1865-1866

Desde já a mínima previdência impediria a maioria dos males de que se queixam os habitantes dessa região, onde abundam os alimentos e o povo morre de fome. Acostumados a viver de peixe, os naturais da terra quase não fazem uso do leite, nem da carne, e pastagens admiráveis, capazes de alimentar numerosos rebanhos, são deixadas ao abandono; descuidados diante das intempéries, quando chega a época da colheita na floresta, não se dão ao trabalho de construir um abrigo contra as chuvas; deixam suas vestes molhadas secarem no corpo e se expõem constantemente às alternativas do frio e do calor; além disso, não hesitam em beber águas estagnadas, mesmo quando só é preciso dar alguns passos para conseguir água de nascente. Não é preciso mais para explicar as febres e endemias, sem procurar atribuí-las ao clima que é perfeitamente salubre e de temperatura muito mais moderada do que geralmente se supõe.

As falsas noções universalmente aceitas, mesmo no Brasil, sobre o clima do Amazonas, já teriam sido de há muito destruídas, se os funcionários públicos das duas províncias setentrionais do Império não tivessem interesse em manter o erro a tal respeito. As províncias amazônicas são etapas na estrada dos empregos superiores da administração; os jovens candidatos que aceitam esses postos pedem a recompensa do devotamento que demonstraram, arrostando a malária, e invocam a pretensa fatalidade do clima para obter sua transferência após alguns meses de estágio. As províncias do norte do Brasil necessitam ser administradas por homens menos desejosos de transferência, mais aplicados ao estudo paciente dos interesses locais e tomando maior interesse pelo seu desenvolvimento. Não é possível que um Presidente que ao cabo de seis meses de estadia, aspire unicamente encontrar-se de novo no seio da sociedade e dos prazeres das grandes cidades, possa empreender e ainda menos completar quaisquer melhoramentos.