Viagem ao Brasil, 1865-1866

Primeira vista d’olhos num interior brasileiro

Por nossa parte, fomos flanar ao acaso numa pequena ilha, a Ilha das Enxadas, junto à qual o nosso navio ancorou para tomar carvão antes de prosseguir viagem. Ao lado dos armazéns de carvão está a casa do proprietário da ilha, uma bonita habitação rodeada de jardim e encostada a uma pequena capela. Foi aí que lancei as minhas primeiras vistas sobre a vegetação tropical e a vida brasileira, e essa primeira impressão teve todo o encanto da novidade.



Dança de negros

Um grupo de escravos, pretos como azeviche, estava a cantar e dançar o fandango. Tanto quanto pude compreender, uma corifeu abria a dança cantando uma espécie de copla, dirigida a todos os assistentes, um após outro, cada vez que completava a volta da roda, e em seguida todos a repetiam em coro, com intervalos regulares. Com a continuação, a excitação aumentou e a dança se tornou como que uma exaltação selvagem acompanhada de exclamações e gritos estridentes. Os movimentos do corpo lembram, numa singular combinação, a dança dos nossos negros e dos espanhóis. Dos pés até à cintura, eram aqueles movimentos curtos, sacudidos, de membros e essa torsão de pernas, próprios dos negros das nossas plantações, enquanto que o tronco e os braços oscilavam cadenciados no ritmo tão característico do fandango espanhol. Quando já tínhamos observado bastante, entramos no jardim: os coqueiros e as bananeiras estavam carregados de frutos e as passifloras trepadeiras se prendiam às paredes da casa, deixando passar aqui e ali, entre suas folhas, uma bela flor carmesim escuro. Era de um efeito encantador e parecia-me