SERMÃO DA VISITAÇÃO DE NOSSA SENHORA
IV
Chegara à Bahia o novo governador, primeiro vice-rei nomeado para o Brasil, D. Jorge de Mascarenhas, conde de Castelo Novo, por Felipe IV, marquês de Montalvão — a 20 de junho de 1640. Os navios holandeses que pilharam os engenhos do recôncavo tinham-se recolhido a Pernambuco e justas esperanças de dias melhores sorriam a Vieira. Na festa da Visitação de Nossa Senhora — a 2 de julho portanto — saudou a D. Jorge de Mascarenhas do púlpito de Misericórdia; e foi decerto este sermão político que lhe deu a estima do vice-rei, que havia de mandá-lo à corte no ano seguinte, em missão que decidiu da sua carreira.
Revela-se na oração II da Visitação, o padre Vieira, o conselheiro dos governos que seria no reino, pregando na Capela Real. A sua voz é mais ali de juiz ou procurador do povo que de sacerdote e exegeta do Evangelho; pede justiça, equidade, prêmios e castigos. A estes pede em frente ao conde da Torre, o vencido da armada das 86 vidas; e parecia adivinhar. Pois aos 22 de julho desse mesmo ano lhe retirava el-rei o título, privava-o das comendas e empregos e mandava-o encerrar-se na Torre de São Julião, como prisioneiro do Estado.
Vieira acusava na Bahia, e como que o ouvia em Madrid, Felipe IV. "El-rei manda-os tomar Pernambuco e eles contentam-se com o tomar"...