Por Brasil e Portugal

VII

SERMÃO PELO BOM SUCESSO

"E assim Portugal se levantou, sem dinheiro, sem armas, sem munições, sem artilharia, sem gente e sem capitães para disporem..." escrevera a 12 de fevereiro de 1641 para o marquês de Montalvão, seu pai, D. Pedro de Mascarenhas. (José Caldas, História de um Fogo Morto, pág. 129. Porto, 1903). Pois tão desprovido de recursos, e pobre, e dividido, resistira a Castela, quebrara na barreira fronteiriça as suas invasões, vencera- lhe em Montijo um exército, obrigava outro a manter-se da outra banda do Guadiana, olhando Elvas das cortinas de Badajoz...

Mas, desgostoso, retirara-se Matias de Albuquerque, feito conde de Alegrete, para Lisboa, o conde de Castelo. Melhor assumiu em abril (era em 1645) o comando das forças do Alentejo, e dos arraiais espanhóis irradiavam as ameaças de nova, decisiva guerra. Foi quando el-rei, como fizera em 1643, se passou ao campo das futuras batalhas, e com ele se deslocou para a praça de Elvas toda a nobreza de Portugal.

Pregou Vieira o sermão "pelo bom sucesso" na capela real, em 6 de dezembro, quinto aniversário — disse ele — da triunfante entrada de D. João IV em Lisboa.

Dous meses depois, encarregado de importante missão em Holanda, partia o padre, como pessoa mais da confiança del-rei, para cimentar pazes, que se não lograram, ou dilatar a guerra iminente — enquanto pelos campos de Pernambuco se alçavam as bandeiras dos "insurretos" e reconquistavam os brasileiros, à viva força, as capitanias perdidas.

Até morrer o soberano, nenhum conselheiro foi mais prezado e ouvido no Paço do que aquele jesuíta tão arrebatadamente português, de quem se diria, tinha "reinado em nome de D. João IV" (Oliveira Martins, História de Portugal, II, 131). Porém — religioso no governo como era político no púlpito — soube abandonar a súbitas a diplomacia, fugir inesperadamente à corte, largar de imprevisto os negócios profanos e trocar a vanglória dos cargos pelas missões da América, contente afinal da sua roupeta remendada e do convívio dos tapuias, em cujas selvas por muito tempo sepultou o gênio criador.