SERMÃO DE SANTO ANTONIO(*)Nota do Autor
Em 13 de junho de 1638 pregou Vieira, na ermida de Santo Antonio, — à beira das trincheiras que por quarenta dias ali defenderam a cidade assaltada e ameaçada pelo exército de Nassau, o seu grande sermão de graças.
Dois anos depois, nessa mesma Bahia aflita, proferia, espantoso de audácia e veemência, o seu doloroso sermão "pelo bom sucesso" — a que se seguiram o "da Visitação" e o do "Dia de Reis", ou o da esperança e o do agradecimento, outros tantos capítulos do evangelho patriótico que ele ensinou naqueles tempos terríveis de sítio, batalhas e infortúnios.
Tudo fora maravilhoso, em 1638, quando se propusera Mauricio de Nassau tomar a Bahia com uma esquadra poderosa e seis mil homens de desembarque.
Começara a desgraça a ser ventura, ao acorrer à cidade Banholo, lançado fora de Sergipe pelos holandeses; as suas tropas, provadas na longa campanha, salvaram a capital. Depois, à violencia do ataque sucedera a perplexidade do inimigo. À sua temeridade, o descoroçoamento; à sua lucidez, o desencanto; à sua estrela, a má fortuna. Os defensores da praça tiveram afinal de proteger uma só trincheira — a de Santo Antonio, desde que o flamengo não repetira a manobra de 1624, quando