V
SERMÃO DO DIA DE REIS
A 6 de janeiro de 1641, na igreja do Colégio, foram dadas graças a Deus pelas vitórias alcançadas sobre o inimigo holandês, desde que, há seis meses, governava o Brasil o marquês de Montalvão. Prometera Vieira, no sermão de 2 de julho, que havia de restaurar-se o Estado com o novo vice-rei; e agora o festejava, com as notícias de que, por toda parte, recuperavam os luso-brasileiros tempo e território perdidos.
Realmente, fora o belga repelido no Rio Real (julho-agosto de 1640); depredara Camamu, mas retirara com pesados danos do Espírito Santo (29-30 de outubro), e andava no ar uma negociação entre Nassau e Montalvão, espécie de tréguas tácitas, para que os "campainhistas" da Bahia não mais entrassem pelos engenhos pernambucanos, enquanto respeitaria o príncipe aos eclesiásticos da terra conquistada. Estes eram os sucessos — bem diversos por certo das ameaças, dos sustos e do desânimo que oprimiram a capital em abril e maio de 1640: (Docs. na Revista do Inst. Archeol. Pernamb., n. 34).
Gratulatório, o sermão do Dia de Reis do ano de 1641, político como o anterior da Visitação de Nossa Senhora, tem o seu interesse profético. Evocara portuguesmente a el-rei D. Sebastião o padre Vieira, um mês e seis dias depois do levantamento dos 40 fidalgos que restituíram a Portugal a independência: as novas deste fato chegaram à Bahia a 15 de fevereiro de 1641.
Tinha razão D. Francisco Manoel, quando, a propósito dos distúrbios de Évora, aludira aos padres jesuítas: "... dizem que tacitamente contribuíam às esperanças de alguma novidade..." (Edição Prestage, das "Panáforas de Vária História", pág. 27, Coimbra, 1931).
Não figura o sermão do Dia de Reis na edição primeira; só aparece na de 1748, que publicou o padre André de Barros. Atribui J. Lúcio d'Azevedo a omissão àquela passagem, em que celebrava o "invictíssimo Felipe IV..." (História de Antonio Vieira, I, 55).