porque a dar saúde, e não a outro fim parte hoje o Redentor com tanta pressa.
Estava a casa de Zacarias nesta ocasião (para que falemos com frase de hospital) feita uma enfermaria de diversos males. O velho Zacarias havia seis meses que emudecera; Santa Izabel sobre os da velhice padecia os achaques de pejada, e, mais mortal que todos, o menino Baptista jazia enfermo do pecado original, relíquias daquele antigo veneno, que dentro de uma maçã proibida deu a serpente a nossos primeiros pais. Se por uma maçã tomada contra a vontade de seu dono se perdeu o mundo todo, que muito que se perca tanta parte dele em tempo que se toma tanto? Enfim, chegou a Senhora que nunca tarda a quem a há mister, e aos primeiros abraços que deu a Santa Isabel, às primeiras palavras de cortesia com que a saudou, ouviu-as o menino enfermo e logo ficou são: Ut facta est vox salutationis tuae in auribus meis, exultavit in gaudio infans in utero meo. Oh, como quisera que entenderam daqui a pessoas soberanas, que com abraços e com boas palavras podem dar vida! Se muitas vezes pela impossibilidade dos tempos é força que estejam as mãos fechadas, por que não estarão os braços abertos? E que avareza pode ser mais cruel que negar a vida a um homem, quem lh'a pode dar com palavras? Tão alentado, tão alegre ficou o menino Baptista com as da soberana princesa, que a saltos de prazer começou a inquietar o silêncio das entranhas maternas, e quase a sair de si com alegria: Exultavit infans in gaudio. Montanhesa cortesia parece receber a saltos uma majestade tão soberana, mas acomodou-se o menino à estreiteza do lugar e não fez pouco, porque fez o que pôde.
Este foi o principal efeito que causou a entrada de Cristo em casa de Zacarias, e semelhante a este é,