Sendo pois este o natural descuido nosso, sendo este o clima, ou os pecados do Brasil, que se emendassem tanto suas influências nesta ocasião, e se persuadissem aqueles moradores a crer em avisos, e prevenir a defesa! Este é sem dúvida o fino da mercê de Deus; este é o milagre porque devemos dar graças, como coisa rara, como coisa superior à mesma natureza.
Mas com a defesa se prevenir, e com trabalharem os homens o que puderam, na prevenção, era tão fraco o número dos nossos e tão escasso e limitado o poder, que ainda lhe ficou a Deus muito que suprir e muito em que fundar e segurar suas glórias. Sabida é a historia de Gedeão que, de tantos mil homens que podia pôr em campo contra o poderoso exército dos Madianitas, só com 300 quis Deus que entrasse na batalha: In trecentis viris liberato vos.(166)Nota do Autor A qualquer mediana experiência fará muita dúvida isto dos 300 homens. Não é a primeira máxima do governo militar não dividir as forças, nem repartir o exército? Pois se Gedeão podia pelejar com tanto maior poder, para que quis e ordenou Deus que pelejasse com forças tão desiguais às do inimigo? O mesmo texto dá a razão. Porque o ordenou Deus assim; e diz que foram ciúmes de sua glória e resguardos de nossa ingratidão: Ne glorietur contra me Israel, et dicat, meis viribus liberatus sum. Se os israelitas pelejaram com o número de soldados que levavam, atribuiriam a vitória ao número de seu exército, dariam as graças às suas mãos, e as glórias ao seu valor. Pois que faz Deus? Manda que não vão à batalha mais que 300 homens (que foi pontualmente o número de portugueses que nesta ocasião se acharam: In trecentis viris) para que sendo o número dos vencedores tão inferior ao do inimigo, não