Apóstolos pescadores, e ao depois chamou-lhes sal: Faciam vos fieri piscatores hominum; Vos estis sal terrae.(220)Nota do Autor Se pescadores, porque sal juntamente? Porque importa pouco o ter tomado, se se não conservar o que se tomou. Chamar-lhes pescadores, foi encomendar-lhes a pescaria; chamar-lhes sal foi encarregar-lhes a conservação. Sois pescadores, Apóstolos meus, porque quero que vades pescar por esse mar do mundo; mas advirto-vos que sois também sal; porque quero que pesqueis, não para comer, senão para conservar. Senhores meus, já fomos pescadores, ser agora sal é o que resta. Fomos pescadores astutos, fomos pescadores venturosos; aproveitamo-nos da água envolta, lançamos as redes a tempo, e ainda que tomamos somente um peixe, foi o mais fermoso lanço que se fez nunca, não digo nas ribeiras do Tejo, mas em quantas rodeiam as praias do Oceano. Pescou Portugal o seu reino, pescou Portugal a sua coroa, advirta agora Portugal, que não a pescou para comer, senão para a conservar. Foi pescador, seja sal. Mas isto não se discorre, supõe-se.
Porém: Si sal evanuerit, in quo salietur? Se o sal não for efetivo; se os meios que se tomaram vara a conservação saírem vãos e ineficazes, que remédio? Esta é a razão de se repetirem; e esta é a maior dificuldade destas segundas cortes. As primeiras cortes foram de boas vontades; estas segundas podem ser de bons entendimentos. Nas primeiras tratou-se de remediar o reino; nestas trata-se de remediar os remédios. Dificultosa empresa, mas importantíssima. Quando os remédios não têm bastante eficácia para curar a enfermidade curem ao enfermo. Assim o fez o mesmo Cristo Deus e Senhor nosso, sem dispêndio de sua sabedoria, nem erro