Cristo constituído aos Apóstolos ministros da Redenção, e conservadores do mundo, não os considera sal por semelhança, senão sal por realidade: Vos estis sal; porque o ofício há de se transformar em natureza, a obrigação há de se converter em essência, e devem os homens deixar de ser o que são, para chegarem a ser o que devem. Assim o fazia o Baptista, que, perguntado quem era, respondeu: Ego sum vox:(229)Nota do Autor Eu sou uma voz. Calou o nome da pessoa, e disse o nome do ofício; porque cada um é o que deve ser, e senão, não é o que deve. Se os três estados do reino, atendendo a sua preeminência, são desiguais, atendam a nossas conveniências, e não o sejam. Deixam de ser o que são, para serem o que é necessário, e iguale a necessidade os que desigualou a fortuna.
A mesma formação do sal nos porá em prática esta doutrina. Aristóteles e Plínio reconhecem na composição do sal o elemento da água e do fogo: Sal est igneae, et aquae naturae, continens duo elementa, ignem et aquam, diz Plínio. A glosa ordinária, e São Chromacio acrescentam o terceiro elemento do ar (prova seja a grande humidade deste misto); e diz assim São Chromacio: Natura salis per aquam, per calorem solis, per flactum venti constat et ex eo, quod fuit, in alteram speciem commutatur. A matéria ou natureza do sal são três elementos transformados, os quais tendo sido fogo, ar e água, se uniram em uma diferente espécie, e se converteram em sal. Grande exemplo da nossa doutrina! Assim como o sal é uma junta de três elementos, fogo, ar e água, assim a república é uma união de três estados. Eclesiástico, Nobreza e Povo. O elemento do fogo representa o Estado Eclesiástico, elemento mais levantado que todos, mais