tinham alcançado, e que todos as tiravam das próprias cabeças, e as lançavam diante do trono de Deus, para as atribuir a seu verdadeiro Autor, reconhecendo que mais eram de Deus, que suas. Cristo nosso Salvador é o verdadeiro Deus dos exércitos e das vitórias; o seu trono é Santo Antonio, que tão de assento o tem nos braços; e diante deste Deus e deste trono vêm lançar as coroas que mereceram na presente vitória os famosos Martes da nossa milícia, mais gloriosas quando as põem aos pés de Deus, que quando Deus lh'as pôs na cabeça. E chama-se Deus nesta ocasião, viventem in saecula saeculorum, porque as vitórias temporais, tão sujeitas à variedade da fortuna, só postas aos seus pés podem ser eternas.
Bem acabava aqui o sermão, se me não faltara a última cláusula, que o nosso agradecimento não deve passar em silêncio. Os que lançaram as coroas aos pés do trono de Deus, eram os Anciãos, em que mais particularmente são significados os veteranos, cabos e soldados da milícia pernambucana, cujas valorosas ações nesta guerra, assim como as admiraram os olhos dos presentes, assim serão perpétuas nas línguas da fama; e nas letras e estampas dos anais as lerá imortalmente a memória dos vindouros. No meio porém desta mesma alegria universal não posso deixar de considerar neles algum remorso de dor. À vista dos bens alheios cresce o sentimento dos males próprios. E tais podem ser as memórias dos desterrados de Pernambuco (como as lembranças de Sião sobre os rios de Babilônia) vendo a Bahia defendida, e a sua pátria, pela qual trabalharam muito mais, em poder do mesmo inimigo.(79)Nota do Autor Assim o permitiu e ordenou Deus.