Por Brasil e Portugal

II

Erat homo ex pharisoeis, Nicodemus nomine, princeps judeorum. Hic venit ad Jesum nocte, et dixit ei: Rabbi. Sicut Moyses exaltavit serpentem in deserto: ita exaltari oportet Filium hominis.

São estas as primeiras e últimas palavras do Evangelho as quais, posto que tão diferentes na ordem e tão distantes no lugar, admiravelmente se correspondem e unem no sentido e nos mistérios. Erat homo, havia um homem, diz o Evangelista São João, que como no mundo há tão poucos homens, bem é que se diga como cousa particular, Erat homo, havia um homem. Chamava-se este homem Nicodemus, e era grande fidalgo, Nicodemus nomine, princeps judeorum. Antes de dizer o cronista sagrado, que era fidalgo, disse primeiro que era homem; porque há algumas fidalguias tão endeusadas que é necessário que nos digam os evangelistas, e que se creia de fé, que também estes ídolos de si mesmos são homens. Este homem, pois, este fidalgo, este Nicodemus veio falar com Cristo de noite; hic venit ad Jesum nocte; e não veio de dia por medo que tinha do povo; propter metum judeorum. De dia contemporizava com o mundo, de noite tratava com Cristo, e mais não era cristão. Quantos há que se prezam muito de o ser, e os dias e mais as noites tudo lhes leva o diabo? O fim desta visita, posto que tanto às escuras não era sem luz, ou desejo dela, porque era para se aconselhar, perguntar e ouvir a doutrina do Mestre divino, et dixit ei: Rabbi. Até aqui a primeira parte do nosso tema; quando for tempo sairá a segunda.