Maior prova ainda, quanto vai de mulher a homem, e tão homem. Nota Orígenes, e bem, quão diferentemente se portaram na prisão e morte de Cristo os discípulos e a Madalena. Os discípulos fugiram, a Madalena seguiu-o animosamente até a morte: Discipulis fugientibus, eum ad mortem euntem sequetabur. Até a morte, disse Orígenes; e se dissera até depois da morte, era o que mais devia ponderar. Mas donde tanta diferença de doze homens a uma mulher? Donde tanto ânimo em uma mulher, e tão pouco valor em tantos homens? Ide às choupanas das praias de Galileia, e ao castelo de Betânia, e aí achareis o donde. A Madalena, ainda que mulher, é uma, era de ilustre solar, e senhora; os discípulos, posto que homens, e muitos, eram plebeus e sem nobreza; e onde houve esta, ou faltou, ali se luziu, ou se perdeu o valor. Outras fraquezas se notaram na Madalena, e por ventura nascidas da mesma causa. Como era ilustre e senhora, houve de ser cortesã, passou a cortesia a ser cuidado, passaram os cuidados a ser descuidos. Sendo porém a Madalena tão nobre por geração, e os discípulos uns pescadores, que com o remo e a rede sustentavam a baixeza da sua fortuna; como naquela ocasião todos perderam a graça, claro está que deixados à natureza, cada um havia de obrar como quem era. Os discípulos como gente plebeia deitaram a fugir, a Madalena como ilustre, posto que mulher, perseverou constante ao lado sempre de seu Senhor. Tanto aproveita o sangue para os animosos procedimentos, que não está o valor nos braços, está nas veias.
Não quero dizer com isto que seja necessário descender dos godos para ser valente, que isso seria contradizer a razão, e negar a experiência. A espada que faz a guerra, e dá as vitórias, não é fábrica de ouro, senão do ferro; não do metal mais resplandecente e ilustre, senão do mais duro e forte. Para ser tão valoroso como Alexandre,