À Margem do Amazonas

se estendia no matupá, rolava na relva, subia nos ramos, ondulava por toda parte, num desmedido, interminável domínio.

Nesse mudo império vegetal somente os frutos escarlates das mungubeiras, suspensos nos galhos desfolhados, ou alguma orquídea, de singulares coloridos enfeitando velhos troncos, ou as flores roxas dos mururés, quebravam alegremente a imensa monotonia.

*

O lago enorme parecia ter segredos que procurava esconder aos olhos humanos. Uma grande moita de arbustos ocultava a entrada de um furo estreito a correr serpenteante entre galhos e cipós. Depois aparecia outro lago pequenino e sombreado, onde mal penetravam as réstias da luz, e onde havia um silêncio maior, mais amplo, mais profundo — um abafado silêncio de templo ao abandono.

As árvores marginais, elevadas e vetustas, estendiam densa penumbra, que dava à água represa um tom luzente e negro.

E sobre a água, na religiosa mudez do recanto, na tristeza dos ramos curvados, na misteriosa