À Margem do Amazonas

da noite, como se o próprio mundo se desmoronasse em fragmentos.

Pelos barrancos, onde as águas vão fazendo um surdo trabalho de sapa, pendem, aqui e ali cacaueiros, taxizeiros, embaúbas, ueranas, arbustos, árvores de toda espécie, com as raízes à flor do solo, as comas meio ocultas nas águas; e de vez em quando um exemplar maior, um mulateiro (pentachetra filamentosa), uma envireira (xilopia sp.) ou alguma sumaumeira, retumba como um trovão na queda formidável.

São os monarcas da flora acompanhando a sua pobre corte naquela tragédia do aniquilamento.

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Em junho a poderosa torrente arremessa os últimos jatos descidos dos manadeiros e multiplicados pelos afluentes. Não fosse — explica Euclides da Cunha, referindo-se ao Purús — a válvula de segurança dos lagos, funcionando como diques providenciais, retendo a assoladora avalanche líquida, de certo toda a terra amazônica desapareceria numa terrífica inundação.