À Margem do Amazonas

Sob a luzente mortalha das águas toda a terra aluviônica — terra frágil e nova que o rio criara para destruir, no mais absurdo dos caprichos de hidráulica vai-se sumindo de vez.

Tudo se transforma no desmedido cenário. O rio perde o aspecto de corrente rumorejando entre a frescura das margens majestosas em busca da foz e do oceano. Tem agora a impressionante amplidão de um lago sem fronteiras, sem orlas, sem termo, ora reluzindo livremente na vastidão das baías, ora deslizando nos igapós onde centenas de árvores mostram apenas as frondes verdes quase rentes à correnteza.

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É a cheia amazônica — a devastação, o sofrimento, o desabrigo, todo o clamor de uma gente faminta expulsa das terras submersas: antítese expressiva dos dramas cruéis nas longas estiagens do nordeste.

Essa pobre gente resistira até o último instante.