A água ia subindo diariamente, impiedosamente. Sob os casebres erguidos a um metro do solo, a água livre corria, rodopiava de leve pelos esteios. Já os animais domésticos haviam sido agasalhados a um canto, tolhidos, tristes, como se pressentissem o ato final de todo aquele longo suplício.
A água subia cada vez mais. Os toscos degraus da escadinha à frente das casas sumiam-se um a um, levando as derradeiras esperanças de uma interrupção na enchente brutal.
Os criadores das várzeas conduzem nos batelões todo o gado para os campos de terra firme, porque a água já começa a lavar a estiva das marombas, e as rezes, com os cascos amolecidos vão caindo a todo momento em mugidos de angústia.
A escadinha de madeira — o índice pressago daquele martírio — desaparecia também, numa noite gelada de aguaceiro e de friagem. A torrente entrava pelas casas, lambendo os soalhos, arrastando pequenos objetos, fugindo e reaparecendo pelas gretas e pelas portas, dançando doidamente na agitação dos banzeiros.