À Margem do Amazonas

Nesse áspero dilema, o forasteiro, em regra geral, prefere uma tangente: recuar, fugir, e lançar de longe, de outras paragens, de outros Estados, um vasto jorro de maldições, de injúrias, de ignomínias, sobre o pobre El Dorado que o iludiu, que o escorraçou, numa faina amarga de seleção — porque o Amazonas é um selecionador inexorável de indivíduos, conforme Euclides da Cunha.

Mas — Deus louvado — nunca essas diatribes inquietaram os habitantes da formosa cidade, porque todas elas esbarram numa resistente, intransponível barreira: o eterno bom humor do amazonense!

Felizmente, Manaus inteira é uma incorrígivel humorista, e compreendeu bem cedo que somente os grandes homens, as grandes coisas, as grandes instituições, merecem o ódio gratuito, a calúnia, o insulto brutal. Compreendeu facilmente, e sabe que ninguém no mundo teria a ingenuidade ou a veleidade de injuriar uma aringa africana ou alguma remota vila persa.

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