À Margem do Amazonas

partiu de repente, sob um impulso brutal mergulhando na água do lago.

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Estava arpoado o pirarucu. Um estremeção terrível na grossa arpoeira, que se estica, que desce para a água profunda, que retine como um fio metálico num máximo de tensão.

O caboclo da haste senta-se no banco; o piloto apenas sorri — e a montaria como doida, sem rumo, sem leme, sem governo, cabriola à flor d'água, levada naquele furor de animal que sentiu no dorso a ferida profunda do arpão. A dor e o pavor do peixe devem ser desesperados, porque a pequena embarcação rodopia, enfia a proa n'água, para um momento, rompe numa carreira louca, desordenada, lago afora.

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Mas essa fúria do peixe vai aos poucos diminuindo, abrandando, morrendo. Quando se tenta segurar a arpoeira, tem ainda uns arrancos ferozes que cessam logo.