teriam bastado por si sós para provar seu talento poético, de sorte que ele pôde dizer:
Versos me viram fazer
Por inato e doce dom.
São, ao revés muito desiguais, o que não deve espantar, quando se leva em conta que longe de serem o resultado de uma inspiração poética, foram, na maior parte das vezes, impostas. Ao lado de ditos de espírito excelentes e graciosos epigramas, encontram-se frequentemente banalidades e jogos de palavras, torneios de frase pueris numa linguagem, no mais das vezes, descuidada e incorreta. Estes produtos do momento perdem muito quando separados das circunstâncias que os ocasionaram, e de seu acompanhamento musical, que deveriam esconder a maior parte dos seus defeitos.
Por estas razões, não podemos bem julgar Caldas Barbosa, e assinalar-lhe o lugar nas letras brasileiras senão por meio de suas produções verdadeiramente literárias.
É preciso confessar que seus poemas didáticos não passam de prosa rimada e que seus panegíricos não se elevam muito acima de suas poesias de circunstância, mas as encantadoras quintilhas, seus deliciosos sonetos provam-nos como ele era senhor da forma. Em numerosos dos transbordamentos líricos de nosso poeta, respira toda a profundidade de seus sentimentos, e se o tom de melancolia que aqui, por vezes, encontramos poderiam surpreender vindos da parte de um cantor de viola, basta que nos relembremos que, às vezes, os bufões de sociedade sofrem não obstante o papel feliz que desempenham. Este fato ainda é mais explicável em Caldas Barbosa, em quem a situação de dependência contínua e a cor fizeram amaldiçoar a