O Brasil literário: História da literatura brasileira

As poesias de Caldas ocupam um lugar eminente na história da literatura brasileira, não apenas por seu valor poético absoluto, como principalmente por ter seu autor ousado, pela primeira vez, se não quanto à forma pelo menos quanto ao fundo, livrar-se dos entraves do Classicismo e compor abertamente suas obras como poeta cristão. Nota-se, a cada passo, que o inspiraram a Bíblia e os Pais sublimes da Igreja.

E também porque suas poesias se distinguem menos pela imaginação, o fervor místico e a harmonia dos versos que por sua concepção de uma simplicidade grandiosa, seu tom profético e suas belas proporções. Souza Caldas emprega ainda com êxito em suas composições mais consideráveis as formas clássicas, por exemplo, as estrofes pindáricas. Tal Klopstock, está todo penetrado de espírito cristão e aproxima-se do espírito antigo como o autor da "Messiade".

Grande número de suas versões dos salmos são mesmo concebidas num ritmo emprestado à antiguidade, o que não os impediu de ocuparem o primeiro lugar entre as traduções portuguesas das obras do rei-poeta.

Semelhante a um escultor antigo, Caldas tinha modelado a figura sublime do cristianismo num mármore brilhante, porém frio. Seu contemporâneo, o Frei Francisco de São Carlos, pelo contrário, reveste os êxtases místicos da devoção de todo o encanto dos coloridos mais vivos, em seu quadro da Assunção da Virgem.

Nascido no Rio de Janeiro, em 13 de Agosto de 1763, entrou aos treze anos como noviço no Convento dos Franciscanos da Imaculada Conceição, pois que desde sua infância havia revelado grande inclinação para a vida calma do claustro e muitas aspirações religiosas. Seu talento e seu zelo logo o tornaram notável e com a