Muitos ardis tornaram-se necessários para penetrar nesta casa, vencer as precauções do Argus, despojar de posse o outro pretendente, conquistar o coração das belas e, enfim, obter as suas mãos. Este é, na verdade, o assunto mais comum das comédias e que vem sofrendo nos diversos casos centenas de variações, mas Antônio José soube tornar mais complicadas e mais originais intrigas tão conhecidas, de modo que os dois concorrentes, embora amigos não agissem nunca de comum acordo e procurassem um sobrepujar o outro, para alcançar assim o galardão da vitória.
Esta rivalidade leva a novas complicações de ciúme entre os amantes, e o que é sobretudo uma ideia feliz, as artimanhas de um são descobertas e utilizadas em proveito do outro. D. Fuas, com efeito, não tem criado e se vê forçado de ganhar Fagundes, aia de Lanserote, enquanto que D. Gil Vaz possui na pessoa de seu doméstico Semicupio, o Gracioso, o personagem principal da peça, um auxiliar tão inesgotável nas suas artimanhas quanto hábil em colocá-las em execução. Semicupio tem, além disto, um aliado, Sevadilha, criada da nora de D. Gil Vaz, e a Graciosa da ópera. Ele faz-lhe naturalmente a corte e recebe ainda uma flor como sinal. Esta flor tem o nome da malmequer, mas embora seja o emblema do recato fingido, não é preciso por isso levá-la mais a sério que esta meia virtude, quando se a vê nas mãos de uma criada.
Estas intrigas produzem uma série de situações cômicas e de cenas bastante engraçadas, que feitas para a representação perderiam,se traduzidas, os encantos que até hoje conservam no original. Não é preciso, no entanto, calar que o autor, se serve nas suas obras dramáticas, de pequenos recursos como seja o apelo a disfarces, alçapões, etc em uso desde tempos imemoriais entre poetas cômicos, tanto que os limites da verossimilhança são