Viagem ao Brasil, 1865-1866

Conferência no Rio

As poucas palavras com que encerrou uma conferência que ontem fez, no Colégio Pedro II, darão melhor a conhecer como, no seu modo de pensar, tais fenômenos se relacionam com os que conhece de outras regiões da Terra. Depois de haver sucessivamente descrito os blocos erráticos e o drift observados na Tijuca e de que a carta ao Sr. Peirce deu uma ideia, ele acrescentou:

Devo aqui fazer uma delicada distinção, sobre a qual não deve haver equívoco. Afirmo que os fenômenos erráticos, isto é, o drift errático que imediatamente se superpõe às rochas estratificadas que se encontram em estado de decomposição parcial, existem aqui, nas vizinhanças imediatas do Rio. Creio que tais fenômenos se relacionam, aqui como alhures, à ação dos gelos. Não obstante, é possível que um estudo aprofundado da questão, nestas regiões tropicais, revele alguma fase ainda não observada dos fenômenos glaciários. Assim é que investigações feitas nos Estados Unidos vieram demonstrar que imensas massas de gelo podiam mover-se sobre uma planície tão bem como sobre a vertente das montanhas. Que me seja, pois, permitido recomendar especialmente aos jovens geólogos do Rio que estudem particularmente esses fatos; nunca foram objeto de estudos no Brasil, onde se nega que hajam sido produzidos. A quem me perguntar: — Qual a vantagem disso? A que pode conduzir uma tal verificação? Eu responderei que a ninguém é dado predizer qual virá a ser o resultado de uma descoberta feita no domínio da natureza. Quando se descobriu a centelha elétrica, que era ela? Uma simples curiosidade. Quando se inventou a máquina elétrica, para que servia ela? Para fazer dançar uns bonequinhos que divertiam as crianças. E hoje a eletricidade é a força mais poderosa de que dispõe a civilização.