Viagem ao Brasil, 1865-1866

Chegada à Bahia. Um dia passado no campo

28 de julho A metade dos prazeres da vida nascem do contraste, e é seguramente a essa lei que se deve atribuir em grande parte a nossa satisfação de hoje. Depois de três dias passados, com um meio enjoo, num navio sem tratamento e sobrecarregado de gente, é uma deliciosa variante encontrar, numa arejada casa de campo em que somos acolhidos, essa hospitalidade, a mais grata de todas, na qual os hóspedes e hospedeiros se liber-tam mutuamente de cerimônias a fazer e receber. Sentada sob a sombra espessa duma enorme mangueira, com um livro sobre os joelhos, ora leio, ora escuto preguiçosamente o murmúrio das folhas ou as pombas arrulharem, dando picadas aqui e ali no solo ladrilhado do vestíbulo; e ora, enfim, fico a olhar os negros que, com um cesto de verduras ou de flores e frutos na cabeça, vão e vêm no serviço da casa.

Enquanto isso, Agassiz se ocupa em examinar as coleções feitas pelos Srs. Dexter e Thayer durante o tempo em que estiveram na Bahia. Eles receberam o mais solícito auxílio do nosso amigo Sr. Antonio de Lacerda, cujo teto hospitaleiro nos abriga e em casa de quem os encontramos. São já pessoas de casa, tão cordial foi a acolhida do Sr. Lacerda; este lhes proporcionou durante a sua estadia todas as facilidades necessárias à execução de seus projetos. Amador apaixonado de história na-tural, consagra-lhe todas as horas que pode roubar às exigências duma vida de negócios ativamente ocupada e pôde ser, assim, um auxiliar utilíssimo para os nossos naturalistas; além disso, possui uma coleção de insetos numerosa e de grande valor, admiravelmente posta em ordem e em excelente estado de conservação. Os nossos excursionistas são também grandemente devedores ao