se vê nada em desordem espalhado pelo chão, e, não fossem os mosquitos, eu não hesitaria em armar a minha rede sob o teto de uma dessas varandas primitivas. Há, ainda, nas casas de pobres dos nossos climas um elemento repulsivo felizmente ausente aqui: em lugar duma cama volumosa e fétida, verdadeiro ninho de sevandijas, o índio suspende à noite, entre duas paredes, a sua fresca rede. Um traço particular da arquitetura dessas cabanas deve ficar registrado. Como o terreno em que vivem está sempre inundado, os índios costumam suspender a sua choupana sobre estacas e, assim, temos reproduzidas diante dos nossos olhos as velhas construções lacustres de que tanto se falou há alguns anos. Às vezes mesmo, um pequeno jardim, suspenso pela mesma forma em cima d’água, acompanha a pequena habitação.
Mas voltemos ao nosso passeio. Um dos índios nos convida a prolongá-lo até a sua casa, que, diz ele, é um pouco mais distante na floresta. Decidimo-nos sem custo pois que o caminho que ele aponta é dos mais atraentes e mergulha nas profundezas da floresta. Ele nos precede, marchando nós alguns passos atrás; a todo instante temos que atravessar, por cima de um tronco de árvore, algum pequeno córrego, e, como não estou muito segura de mim, o meu guia o percebe: corta incontinente uma vara comprida onde eu possa ter um ponto de apoio, e eis-me mais corajosa. Logo, porém, chegamos a um lugar em que a água é tão profunda que meu bastão se torna curto demais, e como o tronco arredondado em que tenho de passar sacode e balança um pouco, não ouso avançar. Declaro, no meu mau português, ao índio o medo que estou sentindo: "Não, minha branca", (95)Nota do Tradutor, diz-me ele, para me encorajar, "não tenha medo". Então, como que tocado por uma ideia súbita,