pareceu menos divertido e bonito. Além do que, frequentes libações de cachaça tornaram os convidados muito barulhentos e, sob a influência dessa bebida, a dança, animando-se cada vez mais, perdeu o caráter sério e a dignidade que tivera da outra vez. Um pequeno incidente que se deu no começo nos interessou, porém, dando-nos a ver alguma coisa dos costumes religiosos desses índios. De manhã, a mãe de Esperança, uma velha muito feia, entrou no meu quarto para me dar bom dia, e, com grande surpresa minha, vi-a ajoelhar-se antes de sair, a um canto do quarto, diante de um pequeno cofre de que levantara levemente a tampa. Ela levava frequentemente os dedos aos lábios, como para atirar beijos que pareciam ser dirigidos ao interior do cofre, e fazia também numerosos sinais da cruz. Voltou à noite para a festa, e, com outras mulheres, iniciou uma dança religiosa acompanhada de cantos. Todas tinham na mão um pedaço de madeira cortado em forma de grande leque, que abaixavam e levantavam com lentidão, acompanhando o ritmo do canto. Indaguei de Esperança a significação de tal cena. Ela me informou que essas mulheres, que vão, no entanto, regularmente à cidade vizinha de Vila Bela para assistirem à festa de Nossa Senhora de Nazareth, não deixavam de celebrar, na volta, essa espécie de cerimônia que faz parte dos seus antigos ritos. Ela, depois, me convidou a acompanhá-la e levou- me até o meu quarto. Abriu o precioso cofre e mostrou- me o seu conteúdo. Eram uma Nossa Senhora de Nazareth, uma grosseira estampa numa moldura mal feita de madeira, duas ou três outras imagens coloridas e alguns círios. Tudo estava cuidadosamente coberto por uma gaze azul. Este cofre era o oratório da família, e a ingênua índia, para me mostrar esses objetos, tomava-os nas mãos um de cada vez com um respeito feliz e enternecido