Viagem ao Brasil, 1865-1866

que a falta de valor desses toscos objetos ainda tornava mais tocante.



A cabana do pescador

Achamo-nos agora numa outra cabana de índios, situada sobre uma barranca de um braço do Ramos, rio que, por intermédio do Maués, faz comunicar o Amazonas com o Madeira. A nossa viagem de canoa, ante-ontem, durou apenas duas horas, mas o calor nos aca-brunhava e com ele o cansaço, embora seguíssemos um desses canais estreitos que acima descrevi. Os índios têm uma linda expressão para designar essas pequenas rami-ficações dos rios; chamam-nas igarapés, isto é, literal-mente, caminho da piroga; em muitos pontos, efetiva-mente, há o lugar exato para dar passagem a uma embarcação desse gênero. Chegamos aqui às quatro horas mais ou menos; a habitação em que nos achamos é bem menos bonita do que a que deixamos. Está também, como a outra, situada numa encosta de colina, acima do rio e rodeada de floresta, mas faltam-lhe o grande alpendre e a sala de trabalho aberta aos quatro ventos, que tornavam tão pitoresca a cabana de Esperança. Há aqui legiões de mosquitos; logo que cai a noite, fecha-se a casa e queima-se na frente da porta, para afugentar esses encarniçados inimigos, uns molhos de ervas num papelão. As pessoas que nos hospedam se chamam José Antonio Maia e Maria Joana, sua mulher, ambos fazem o que podem para que nos achemos bem sob o seu teto, e as crianças, como os seus pais, nos dão mostras dessa cortesia espontânea que ficamos tão admirados de encontrar entre os índios. A toda hora estão me trazendo flores e pequenos presentes que estão ao seu alcance me ofertar, como, por exemplo, essas vasilhas pintadas que os índios confeccionam com o fruto da Crescentia e que