Viagem ao Brasil, 1865-1866

sobre as questões mais práticas. O legislador deve encarar esta região como um mar ou como um continente? Qual o interesse que deve prevalecer, o da navegação ou o da agricultura? Estas regiões são essencialmente terrestres ou aquáticas? Foram estes os problemas que se apresentaram no decorrer da discussão. Uma zona de terra que se estende de um extremo a outro dum continente e que, durante a metade do ano, desaparece debaixo d’água, onde, por conseguinte, não pode haver nem caminhos de ferro, nem grandes estradas, nem mesmo viagens a pé por extensões consideráveis, não pode ser considerada como terra firme. É verdade que neste oceano feito de rios, ao invés de a maré subir e descer cada dia é anual; a sua amplitude é mais lenta, mais durável, mais extensa; em lugar de ser regulada pela lua, o sol é que a regula. O imenso vale, todavia, não é menos sujeito a todas as condições de um território submerso, e deve ser tratado como tal. E as variações semi-anuais do nível exercem sobre os habitantes uma influência muito mais profunda do que as marés oceânicas. Durante a metade do ano, os habitantes passam de canoa por onde caminharam a pé, na outra metade, sobre um solo mal consistente. Suas ocupações, suas vestimentas, seus hábitos se modificam conforme é tempo de seca ou de chuva. E não é somente o gênero de vida, mas o aspecto total da região, o caráter da paisagem que muda de todo. As duas pitorescas cascatas, numa das quais nos banhamos outro dia, esse ponto de reunião predileto dos manauenses na presente estação, terão desaparecido daqui a alguns meses debaixo de 40 pés de água; os grandes rochedos que se ostentam à vista e os sulcos sombrios se terão transformado em leito do rio. Tudo o que se ouve contar, tudo o que se lê a respeito da grandeza do Amazonas e seus tributários é incapaz de dar uma ideia