Viagem ao Brasil, 1865-1866

do dia e poucas pessoas resistem à sedução duma fresca rede balançando-se lentamente em algum recanto sombrio ou debaixo da coberta. Depois de algumas pala-vras de palestra com a nossa hospedeira e sua filha, eu desci e descobri um pequeno recanto muito atraente ao pé da lagoa. Aí, embora com um livro nas mãos, o roçar baixinho do ar de encontro as árvores, o marulhar ligeiro das águas em volta das montarias amarradas perto de onde eu estava, mergulharam-me em breve nesse estado de espírito em que a gente se sente preguiçosa sem pena e sem remorsos, parecendo-nos que o mais imperioso dever é não se fazer nada. O canto monótono do violão chegava até onde eu estava, vindo dum bosque onde os nossos tanoeiros se abrigaram, e as franjas vermelhas de suas redes juntavam ao colorido da paisagem a cor exata que lhe faltava. Às vezes, um voo de papagaios ou de ciganas, partindo de súbito por sobre a minha cabeça, o salto curto e brusco de um peixe no lago faziam-me voltar a mim por um momento; porém, à parte esses ruídos, toda a natureza estava como que adormecida e os homens e os animais refugiavam-se do calor no repouso e na sombra.

O jantar reuniu a todos ao cair da tarde. Estando conosco o Presidente da província, o nosso passeio campestre se realizou com um luxo que as nossas excursões científicas jamais conheceram. Não se tratava mais de utensílios improvisados, xícaras de chá servindo de copo e barricas -vazias, de cadeiras; — temos um cozinheiro, um copeiro, uma terrina de prata, facas e garfos para todos, e outras futilidades que os andarilhos como nós aprendem a dispensar.



Visitantes índios

Enquanto jantávamos, começaram a chegar os índios das florestas próximas para apresentar suas homenagens