Uma noite ruidosa e a animação estava no auge quando, às dez horas, eu me recolhi ao quarto, ou antes à saleta em que estava armada a minha rede. Devia, no entanto compartilhá-la com as índias e seus filhos, com uma gata e seus gatinhos já instalados nas pontas do meu mosquiteiro e fazendo frequentes investidas para cima de mim, e galinhas, pintos e toda uma matilha de cães, indo e vindo sem cessar de dentro para fora e de fora para dentro. A música e a dança, os risos e as conversas se prolongaram pela noite a dentro.
A cada instante, um índio entrava para repousar um pouco, deitava-se numa rede, fazia um ligeiro sono e voltava para dançar. Nos primeiros tempos de nossa chegada à América do Sul, não julgávamos ser possível conciliar o sono em tais condições; mas a gente se acostuma depressa na Amazônia a dormir em quartos sem assoalho nem ladrilho, fechados por muros de terra ou mesmo não fechados de todo, cobertos por um telhado de palha, cujas folhas secas os ratos e os morcegos fazem estalar e onde barulhos noturnos misteriosos nos convencem que o homem não é ali o único ocupante. Há, aliás, uma coisa graças à qual é muito mais agradável passar a noite na choça de um índio do que na choupana dum indigente de nosso país: é a perfeita independência que se tem a respeito do lugar de dormir em relação aos moradores. Ninguém viaja sem a sua rede e o filó cerrado que é a única coisa capaz de proteger contra os mosquitos. Camas e roupas de cama são perfeitamente desconhecidas, e não há pessoas por mais pobre que não possua duas ou três redes bem limpas, de malhas largas e fortes, pois a gente da terra fabrica-as ela mesma com fibras de palmeiras. As salas recebem ar por todos os lados, tendo os índios grande asseio corporal; podem ser desleixados em outras coisas, mas tomam banho uma ou duas vezes ao dia, ou mesmo mais,