Viagem ao Brasil, 1865-1866

que esses rápidos esboços não pretendem senão anotar o contorno e o colorido dos peixes, mas, tais como são, prestarão auxílio inestimável quando se fizerem os desenhos acabados. Deixando, pois, Agassiz com as suas preparações e o Sr. Burkhardt com as suas tintas, subo as margens da lagoa através de uma região estranha, meio sólida meio liquida, onde a terra e as águas se misturam e se confundem.



Paisagem

Do seio da lagoa, onde escondem e afundam as suas raízes, emergem grupos de grandes árvores; ou, então, são troncos mortos e enegrecidos que se erguem no meio das águas com suas formas bizarras e fantásticas. Por vezes, dos altos ramos, descem até o solo essas singulares raízes aéreas tão comuns nas florestas daqui, e a árvore parece estar apoiada em muletas. Aqui e ali, beirando as margens, a nossa vista penetra nos recessos da mata e fixa-se na estranha roupagem das lianas, das trepadeiras, dos cipós parasitas que se enlaçam aos troncos ou se balançam entre dois galhos vizinhos como cordas flutuantes. Na maioria dos casos, a margem da lagoa é um talude em declive suave, coberto de vegetação tão fofa, e tão vivaz que até parece que a terra recebeu, graças ao seu longo batismo de seis meses, um segundo nascimento e retornou à vida por uma nova criação. De distância em distância, uma palmeira ergue a sua cabeça por sobre o topo uniforme da floresta; especialmente a elegante e graciosa açaí cuja coroa de folhas, recortadas como penas, vibra ao mais leve sopro da aragem, no alto da estipe lisa e ereta.

Ao cabo de meia hora chegamos ao sítio e desembarcamos. Esses estabelecimentos são comumente situados nas margens de uma lagoa ou de um rio, a distância de uma pedrada da praia, para que o banho e a pesca estejam