Viagem ao Brasil, 1865-1866

água metade terra, que já conhecíamos da manhã, e flutuamos entre os grandes tufos de vegetação donde saem as grandes árvores da floresta, e os troncos mortos que, de pé sobre as margens, parecem velhas minas enegrecidas. Não fomos nem muito longe nem muito depressa; os remadores noviços achavam a tarde muito quente e desejavam mais se divertir que se esforçar; paravam ora para apontar para uma garça branca, ora para atirar sobre ciganas ou papagaios voando; mas queimaram muita pólvora sem resultado algum. Voltamos; e, quando a canoa acabou de dar calmamente a volta, tive diante de mim o mais lindo quadro que jamais contemplei. As índias, tendo terminado o seu jantar, haviam tomado a embarcação de dois mastros enfeitada de bandeirolas, preparada para a recepção do Presidente, e vieram ao nosso encontro; os músicos estavam a bordo e com eles dois ou três homens, mas as mulheres, em número de umas quinze, não se serviram deles e, como verdadeiras amazonas, tomaram em suas mãos o leme e os remos. E remavam com todo o ardor; ao se aproximar a embarcação com os músicos tocando e as flâmulas flutuando ao vento, o lago cor de púrpura, todo envolvido pelos raios do sol poente, unido como um espelho, refletiu nitidamente essa cena pitoresca. Cada qual daquelas figuras bronzeadas, cada ondulação .das bandeirolas vermelhas e azuis, cada dobra verde e amarela do pavilhão nacional, na popa, se destacavam distinta e precisamente tanto acima como abaixo da superfície das águas; a feérica embarcação, pois realmente o era, deslizava entre o esplendor do sol e o esplendor do lago profundo, e parecia emprestar suas cores a um e a outro. Aproximava-se rapidamente; em pouco tempo estava junto de nós e ouviram-se alegres vivas a que respondemos com entusiasmo. Então as duas embarcaçôes se puseram lado a lado e desceram juntas, passando a guitarra