Viagem ao Brasil, 1865-1866

seu desenho diferente, por elas conservadas sempre depois disso, e distribuiu-lhes ocupações diversas. No fim só restou um rebutalho composto dos mais feios, mais fracos e mais miseráveis representantes da raça humana. A estes, disse Deus traçando-lhes no nariz uma linha vermelha: "Não sois dignos de ser homens ou mulheres; ide e sede animais!" E eles foram mudados em aves, e, desde esses tempos, os mutuns erram com o seu bico vermelho pelas grandes matas soltando gemidos plangentes.

A tatuagem dos Mundurucus não se relaciona apenas com a ideia confusa duma ordem emanada do primitivo Criador, é também o índice de uma aristocracia. Um homem que descuidasse dessa distinção, não seria respeitado em sua tribo, e a associação tradicional dessas duas coisas, tatuagem e dignidade, é tão forte que, mesmo nas povoações civilizadas onde a tatuagem não é mais praticada, há ainda um sentimento de respeito instintivo pelo homem que traz essas marcas de nobreza. Um índio Mundurucu, tatuado segundo o antigo costume de sua tribo, ao chegar a uma das aldeias que visitamos, foi aí recebido com as honras devidas a uma pessoa de certa categoria. O adágio "é preciso sofrer para ser belo" nunca foi tão verdadeiro como entre esses selvagens. Não são necessários menos de dez anos para concluir os desenhos do rosto e do corpo, só se praticando a operação com certos intervalos. A tinta de cor é introduzida por meio de finas picadas sobre toda a superfície do corpo, processo doloroso que produz tumefações e inflamações, sobretudo, nas partes delicadas como as pálpebras.



Distinção de castas

A pureza do tipo é protegida também entre os Mundurucus por leis severamente restritivas sobre o casamento. A tribo se divide em um certo número de classes