Solidão das margens do Rio Negro. Futuro da região
Aliás, com o correr dos tempos, estas florestas sem fim acabam por parecer monótonas; quando os dias se sucedem aos dias sem que se descubra uma só habitação e se cruze com uma só canoa, acaba-se aspirando por ver terras cultivadas, pastagens, campinas, campos de trigo e de feno, enfim, por tudo que denote a presença do homem. Sentada à tarde na popa do navio, passando centenas de léguas entre margens desabitadas e florestas impenetráveis, acabo por ceder ao peso do tédio. Embora, de vez em quando apareçam umas choças de índios ou uma povoação brasileira, cortando a distância, só há um punhado de gente nesse território imenso. Chegará necessariamente a época em que a humanidade dele tomará posse, em que, nessas mesmas águas onde só cruzamos com três canoas em seis dias, os navios a vapor e embarcações de toda espécie subi-rão e descerão continuamente; em que a vida e o trabalho, enfim, animarão estas margens; mas esses dias ainda não chegaram... Quando me lembro de quantas pessoas paupérrimas vi na Suíça, curvadas sobre um mecanismo de relógio ou num tear de rendas, ousando erguer os olhos a custo do seu trabalho, e isso do nascer do sol até pela noite adentro, sem conseguir, mesmo assim, ganhar o necessário para sua subsistência, quando penso na facilidade com que tudo dá aqui, numa terra que nada custa, pergunto-me por que estranha fatalidade uma metade do mundo regurgita, por tal forma, de habitantes que o pão não chega para todos, enquanto que na outra metade a população é tão escassa que os braços não dão para a colheita! Não devia a emigração afluir em ondas para essa região tão favorecida pela natureza e tão vazia de homens!... Infelizmente, as coisas caminham muito lentamente nestas latitudes,